As crianças brasileiras estão engordando cada vez mais e os culpados vão do maior poder aquisitivo da população à tecnologia, passando também pela educação alimentar dos próprios pais. “Se você tem dinheiro, não vai comprar chicória, vai comprar bolacha”, acredita Denise Iezzi, co-coordenadora do Núcleo de Obesidade e Transtornos Alimentares do Hospital Sírio Libanês. “A classe média ficou mais rica e o poder aquisitivo aumenta o consumo de alimentos com muita gordura.”

Além do acesso aos alimentos ultraprocessados, as novas gerações estão rodeadas de tecnologia o tempo todo –outro motivo para engordarem. “Isso faz com que as crianças e adolescentes fiquem sentados na maior parte do tempo. Já existem diversos estudos mostrando que o tempo sentado determina a obesidade. E o tempo crítico são duas horas, viu? Mais do que isso o indivíduo tem um risco quatro vezes maior de obesidade infantil”, alerta Denise.

Solução está em casa

No Brasil, a obesidade aumentou 60% nos últimos dez anos. Segundo o levantamento feito pela Vigitel, uma em cada cinco pessoas no país está acima do peso e, com isso, também houve aumento da prevalência de doenças de alta morbidade, como o diabetes e hipertensão arterial. “Em 2030, ainda vai haver um aumento importante da obesidade infantil. Países como Índia, China e Brasil vão encostar nos índices dos Estados Unidos. Teremos 33 milhões de obesos entre adultos e crianças. E a incidência de obesidade infantil vai quadruplicar no Brasil”, diz Denise. De acordo com a OMS, em 2025, 11,3 milhões de crianças no país estarão com excesso de peso.

A solução, no entanto, está dentro de casa. Em um talk show sobre o assunto, que ocorreu nesta terça (10), no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, a apresentadora Rita Lobo afirmou que cozinhar pode ser o meio de evitar alimentos gordurosos e industrializados. “Cozinhar ajuda a transformar os alimentos em comida gostosa. O jeito de excluirmos os ultraprocessados do cardápio é comer comida de verdade”, disse. “Como fazer isso? Priorizando a alimentação e aprendendo cozinhar, dividindo as tarefas (alimentação não é assunto e dona de casa, mas da casa) e planejando a refeição da semana (não dá para chegar em casa e ainda pensar no que vai comer).”

A nutricionista Patrícia Jaime, do Departamento de Nutrição da Faculdade de Medicina da USP, complementa: “Esqueça as proteínas, os carboidratos e as gorduras. A alimentação balanceada é a que vem de alimentos in natura diversificados: cereais, leguminosas, carnes, verduras, legumes e frutas, e remete a comida das nossas avós.” Segundo Patrícia, a alimentação passou a ser muito complicada.“A gente tem singularidades, algumas pessoas precisam restringir pelo bem da saúde, mas a grande maioria precisa somente de comida de verdade.”

Atividade física é essencial e se aprende com os pais

“Quem aqui já tirou o filho da escola por que não estavam dando aula de educação física?”, perguntou José Alberto Cortez, professor do Departamento de Esporte da Escola de Educação Física e esporte da USP, à plateia. Enquanto diversas cabeças balançavam negativamente, ele continuou: “Todo mundo já sabe que praticar exercícios físicos ajuda no combate a diversos tipos de doenças, inclusive a obesidade. Mas os pais e as escolas precisam dar mais atenção ao tema.”

Segundo Cortez, a atividade tem que ser agradável e o papel dos familiares é importantíssimo para ela ser algo comum na vida da criança. Denise concorda: “Tão importante quanto a alimentação é a atividade física diária. Tem que ter associação com a escola e integração com bairro, para que a criança associe o exercício a atividades agradáveis e  lúdicas.” Ela ainda completa: “Todos da casa devem estar envolvidos, estejam eles magros ou não. Não é para emagrecer, é para reeducar. É comer direito.”

Fonte: https://estilo.uol.com.br/vida-saudavel/noticias/redacao/2017/10/11/obesidade-infantil-vai-quadruplicar-dieta-dos-pais-e-celular-sao-viloes.htm